MANAUS, Brazil (Oct. 13, 2023) – The following statement was issued by the Wildlife Conservation Society (WCS) Brazil Country Director Carlos Durigan:

“The Amazon Biome in Brazil is facing an unprecedented environmental and humanitarian crisis due to extreme drought, deforestation and increasingly frequent forest fires, intensified by global warming associated with the climate crisis and an intense El Niño. International research indicates that the climate crisis induced by human causes is amplified by El Niño and their combined impact is generating the most intense drought in the history of the state of Amazonas, roughly the size of the combined area of France, Spain, Germany and the United Kingdom combined.

“These extreme climatic events have caused severe impacts on natural landscapes and ecosystems across the state, with profound impacts on human health and wellbeing, and the survival of wildlife populations.

“Our WCS Brazil researchers have never seen or experienced the extreme conditions we are currently witnessing. Amazonas contains a larger area of undegraded, high integrity tropical forests than any other place on earth. We are working together with the state government to develop a new mechanism for financing the protection of these forests, based on their role in conserving biodiversity and preventing climate change from worsening.

“The climate crisis requires a global rapid transition away from fossil fuels, an end to deforestation and the destruction of natural ecosystems, and large scale habitat restoration. Otherwise, the climate crisis will continue to have worsening impacts on people and nature.

“Protecting and restoring nature must be a part of the solution. At WCS, we are working across the world on solutions to help ensure that Earth’s remaining forests and peatlands can deliver climate change mitigation and adaptation benefits at the scale the planet needs.

“This current extreme scenario in Brazil is damaging to the entire planet, considering the environmental services provided by the Amazon rainforest. And those most directly affected are Indigenous Peoples, traditional communities, and populations living in the region, whether in urban or rural areas.

“These extreme climatic events have systemic impacts throughout the Amazon biome. Prolonged drought makes the forest more susceptible to fires, creating a cycle of destruction that threatens the entire ecosystem. The loss of vegetation due to fires results in fragmentation and reduction in forest cover, contributing to global climate change and soil degradation.

“The illegal fires ravaging the Amazon region in Brazil have destroyed vast areas of forest. The forest fires have also damaged air quality throughout the state of Amazonas, especially for the Metropolitan region of Manaus with its 2.2 million inhabitants.

“In the first 10 days of October, the state of Amazonas has reached the record for the highest number of fires ever recorded for the month since the historical series began in 1998. On Wednesday October 11th, Manaus was ranked as the city with the second worst air quality on the planet, with a level of pollution considered dangerous for human health.

“During field work, the WCS team recorded illegal fires in the BR-319 highway region, in the Metropolitan Region of Manaus.

“In addition to illegal forest fires, the extreme drought in Amazonas State has affected human populations and wildlife. Intensified by the El Niño phenomenon, the extreme drought has isolated Indigenous communities and led to the mass death of thousands of animals. Impacts include rivers full of dead animals, such as the giant pirarucu fish, and the death of 141 dolphins in Lake Tefé.

“Forty-eight municipalities in the state of Amazonas are in an emergency situation and 12 are on alert due to the extreme drought in the rivers. So far, 392,000 people in the state have been affected, and it is estimated that 500,000 people will be directly affected.

“With the extreme drought, dozens of lakes have disappeared across the region at an astonishing rate. Satellite images analyzed by WCS show that some important water bodies have disappeared within a month.

“This unprecedented situation raises serious concerns about the need for emergency action to reduce the effects of drought and fires, as well as their impacts on human and ecosystem health. The National Government is making considerable efforts to reduce deforestation in the Amazon. The region needs comprehensive policies, plans and instruments to protect nature and reduce the impacts of climate change on Indigenous Peoples along with other local communities.”

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Above photo: In the region of the BR-319 highway, one of the areas most affected by illegal forest fires. Photo by Marcos Amend/WCS.

 

PORTUGUESE VERSION 

Amazônia brasileira pode viver a pior seca já registrada: um resultado da crise climática intensificada pelo El Niño

A seca extrema isolou comunidades rurais e matou centenas de milhares de animais, incluindo animais silvestres ameaçados de extinção

Manaus, 13 de outubro de 2023 - A declaração a seguir foi emitida pelo diretor da Wildlife Conservation Society (WCS) no Brasil, Carlos Durigan:

"O Bioma Amazônia, no Brasil, está enfrentando uma crise ambiental e humanitária sem precedentes devido à seca extrema, ao desmatamento e aos incêndios florestais cada vez mais frequentes, intensificados pelo aquecimento global associado à crise climática e a um El Niño intenso. Estudos internacionais indicam que a crise climática induzida por causas humanas é amplificada pelo El Niño e que o impacto combinando destes fenômenos está causando a seca mais intensa da história do estado do Amazonas, o maior estado brasileiro, com uma dimensão aproximada da área combinada da França, Espanha, Alemanha e Reino Unido.

"Esses eventos climáticos extremos causaram impactos severos nas paisagens naturais e nos ecossistemas em todo o estado, com impactos profundos na saúde e no bem-estar humano e na sobrevivência das incontáveis espécies vivas, plantas e em especial populações de animais silvestres raras ou ameaçadas.

Os especialistas da WCS Brasil nunca viram ou experimentaram as condições extremas que estamos testemunhando atualmente. O Amazonas abriga a maior área de florestas tropicais não degradadas e de alta integridade da Terra. Estamos apoiando e trabalhando em conjunto com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Amazonas, instituições federais, redes e organizações da sociedade civil, compondo as frentes de suporte e ainda buscando alternativas para o desenvolvimento de novos mecanismos para apoiar  a proteção de florestas e paisagens aquáticas, da biodiversidade associada e de ainda apoiar povos indígenas e comunidades locais, a partir de nossa capacidade e expertise nas ações de conservação da biodiversidade e na prevenção do agravamento das alterações climáticas no futuro.

A crise climática exige uma rápida transição global para o abandono dos combustíveis fósseis, o fim do desmatamento e da destruição dos ecossistemas naturais, a sensibilização de produtores rurais para a necessidade de se adotar práticas sustentáveis e sem fogo nas suas atividades agrícolas e pecuárias e ainda a recuperação dos habitats em grande escala. Caso contrário, a crise climática continuará a ter impactos cada vez mais graves nas pessoas e na natureza.

Proteger e restaurar a natureza deve ser uma parte da solução. Na WCS, atuamos em todo o mundo para implementar soluções que ajudem a garantir que as florestas e zonas úmidas remanescentes da Terra possam proporcionar benefícios de mitigação e adaptação às alterações climáticas à escala que o planeta precisa.

Este cenário extremo atual no Brasil é prejudicial para todo o planeta, considerando os serviços ambientais prestados pela floresta amazônica. E os mais diretamente afetados são os povos indígenas, as comunidades tradicionais e as populações que vivem na região, seja em áreas urbanas ou rurais.

Esses eventos climáticos extremos têm impactos sistêmicos em todo o bioma amazônico. A seca prolongada torna a floresta mais suscetível a incêndios, criando um ciclo de destruição que se autoalimenta e ameaça todo o ecossistema. A perda de vegetação devido aos incêndios resulta na fragmentação e na redução da cobertura florestal, contribuindo para as alterações climáticas globais e para a degradação dos solos.

Os incêndios ilegais que assolam a região amazônica no Brasil destruíram vastas áreas de floresta. Os incêndios florestais também prejudicaram a qualidade do ar em todo o estado do Amazonas, especialmente na região metropolitana de Manaus, com os seus quase 2,1 milhões de habitantes.

Nos primeiros 10 dias de outubro, o estado do Amazonas atingiu o recorde de maior número de incêndios já registrado para o mês desde o início da série histórica em 1998. Na quarta-feira, 11 de outubro, Manaus foi classificada como a cidade com a segunda pior qualidade de ar do planeta, com um nível de poluição considerado perigoso para a saúde humana.

Durante o trabalho de campo, a equipe do WCS registrou queimadas ilegais na região da BR-319, na Região Metropolitana de Manaus.

Além dos incêndios florestais ilegais, a seca extrema no Estado do Amazonas tem afetado as populações humanas e a vida silvestre. Intensificada pelo fenômeno El Niño, a seca extrema tem isolado comunidades indígenas e provocado a morte em massa de milhares de animais. Os impactos incluem rios cheios de animais mortos, como o pirarucu, e a morte de 141 botos no Lago Tefé.

Quarenta e oito municípios do estado do Amazonas estão em situação de emergência e 12 em alerta devido à seca extrema nos rios. Até o momento, 392 mil pessoas foram afetadas no estado, e estima-se que mais de 500 mil pessoas serão diretamente afetadas.

Com a seca extrema, dezenas de lagos desapareceram em toda a região numa velocidade espantosa. Imagens de satélite analisadas pela WCS mostram que alguns importantes corpos d'água desapareceram em um período de dois meses.

Esta situação sem precedentes levanta sérias preocupações sobre a necessidade de uma ação integrada de emergência para reduzir os efeitos da seca e dos incêndios, bem como os seus impactos na saúde humana e dos ecossistemas. O Governo Federal está promovendo esforços consideráveis para reduzir o desmatamento na Amazônia. A região precisa de políticas, planos e instrumentos abrangentes para proteger a natureza e reduzir os impactos das mudanças climáticas sobre os povos indígenas, comunidades locais e toda a sociedade amazônida.

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Foto acima: Na região da rodovia BR-319, uma das áreas mais afetadas por incêndios florestais ilegais. Foto de Marcos Amend/WCS.